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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O caso do fecho de linhas férreas no Alentejo ou O triunfo do automóvel

Numa entrevista dada há alguns meses ao Jornal das Caldas, o presidente da CP, José Benoliel, interrogava-se sobre se relativamente a várias linhas férreas com procura reduzida em Portugal o transporte público rodoviário não seria o mais adequado para garantir a acessibilidade das populações por elas servidas.

Meses depois, encerrou ao tráfego nacional de passageiros mais uma linha no Alentejo (o Ramal de Cáceres) e o plano da CP para 2011 prevê o encerramento de mais uma, com o que ficará a sobrar, como ferrovia da região aberta ao transporte de passageiros, o que resta da Linha de Évora, o que resta da Linha do Alentejo e a Linha do Leste.

Aquele tipo de argumentação não é novo: há duas décadas, serviu de base à supressão do serviço ferroviário de passageiros em inúmeras linhas férreas portuguesas, entre as quais a maior parte das linhas alentejanas. A maior região portuguesa (que ocupa mais de um terço do território continental) ficou reduzida a uma oferta ferroviária mínima.

Passando-se por cima da enorme degradação do serviço prestado, dizia-se, há duas décadas, que o despovoamento crescente desta região conduzia naturalmente a um esvaziamento da procura do transporte ferroviário, que teria deixado de constituir um modo de transporte adequado para a nova realidade alentejana: o despovoamento e a consequente diminuição do fluxo de passageiros na região tornariam muito mais adequado o autocarro e, portanto, havia que substituir a oferta do obsoleto transporte público ferroviário pelo transporte público rodoviário, que deixaria as populações mais bem servidas.

Várias linhas férreas (ou troços de linhas) foram encerradas ao tráfego de passageiros no Alentejo interior em 1 de Janeiro de 1990: o Ramal de Portalegre (Portalegre – Estremoz), a Linha de Évora (troço Évora – Estremoz – Borba – Vila Viçosa), o Ramal de Reguengos de Monsaraz (Évora – Reguengos de Monsaraz), o Ramal de Moura (Beja – Serpa – Moura), o Ramal de Mora (Évora – Arraiolos – Mora) e o Ramal de Montemor-o-Novo (que permitia a ligação desta cidade às de Évora e de Beja e à restante rede)
[Acresceu, no Alentejo litoral, o encerramento do Ramal de Sines (que servia as cidades de Sines e de Santiago do Cacém) e ainda a supressão do serviço no Ramal de Vendas Novas, este servindo também o Ribatejo].

O fecho do serviço ferroviário foi, em todos os casos, acompanhado da implementação de um serviço de transporte rodoviário alternativo – que, todavia, duraria muito pouco tempo, tendo sido rapidamente abandonado.




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