Entrevista com Daniel Conde.
Daniel Conde é responsável pelo Movimento Cívico pela Defesa da Linha do Tua.
O processo de classificação da Linha do Tua como monumento nacional foi arquivado pelo Ministério da Cultura. É o fim da linha?
Não, de forma alguma. Mesmo que a barragem seja construída, o troço Brunheda-Mirandela mantém-se intacto e há que reabri-lo em toda a sua extensão.
A secção de Património Arquitectónico do Conselho Nacional da Cultura diz "que a Linha do Tua não representa qualquer valor artístico e não tem nada de especial do ponto de vista técnico". Concorda?
Essa afirmação é uma vergonha. Quem o escreveu que tenha a coragem de o vir dizer cara a cara aos transmontanos e às universidades da região! Contraria a afirmação do representante da UNESCO que há três anos visitou a linha e que afirmou que esta tinha "todas as características para ser considerada Património Mundial".
O parecer do Igespar recorda que a inviabilização da linha se deveu sobretudo aos acidentes ali verificados em Fevereiro de 2007 e Agosto de 2008, concluindo que o perigo de novos acidentes se mantém...
A linha precisa de investimento e não é nada de inédito pois a Refer instalou na Linha da Beira Baixa um sistema de alerta, para derrocadas, em tempo real. Porque não instalá-lo aqui? Preferem o investimento rodoviário ao ferroviário e é má política, pois não só prejudicam as populações, privando-as de transpor-te, como afastam os turistas da região.
Nos últimos tempos só o autarca de Mirandela, José Silvano, se tem batido pela Linha do Tua, embora a sua maior extensão se verifique noutros concelhos. Como vê a actuação dos autarcas de Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Murça e Alijó?
Os autarcas dos concelhos que referiu têm uma visão tacanha e não se preocupam com o bem-estar das suas populações. Julgam que reabilitam o turismo através de rodovias que nunca saberemos quando serão construídas, em vez de apostarem no comboio.
Que pensa da alternativa proposta para a Linha do Tua, a construção de um funicular, que daria acesso a barcos para o transporte até à Brunheda, onde a via seria reabilitada?
Risível, cómica e hilariante! Para já quem paga o investimento? A EDP já disse que não, as autarquias não estou a ver, pois os 3% que a EDP vai pagar vão direitinhos para o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade. O funicular obriga a que o visitante que venha do Porto faça quatro ou cinco transbordos, ande a pé mais de dois quilómetros, e navegue numa barragem que de certeza vai criar maus cheiros. Esta proposta é para nos calar, para já, pois sabem que não tem pés para andar.
Fonte: Diário de Notícias
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