O encerramento da Linha do Corgo
deixou um vazio nas aldeias, entre Vila Real e a Régua, e 10 anos depois ainda
são muitos os que suspiram de saudade e sonham com o regresso do comboio.
A linha de caminho-de-ferro do Corgo,
que ligava as cidades de Vila Real e Peso da Régua, foi encerrada no dia 25 de
março de 2009 por decisão do Governo PS de José Sócrates, que alegou razões de
segurança.
A notícia foi inesperada e deixou em
choque as populações das aldeias que sempre viveram a ver passar os comboios.
"Sinto muito a falta do comboio.
A gente com o comboio parecia que estávamos mais completos, até sabíamos as
horas e tudo", afirmou à agência Lusa Maria Helena, 60 anos, residente na
aldeia de Povoação, no concelho de Vila Real.
Para esta habitante, a "aldeia
ficou mais vazia" e com o fecho da via ficou "a tristeza".
"Porque a gente nasceu já a ver o comboio aqui, foi uma coisa que nos
tiraram de toda a vida", sublinhou.
A Povoação é terra de muitos
ferroviários. Um deles é António Bento que faz parte da Junta de Freguesia
Ermida/Nogueira, onde está inserida aquela aldeia.
"Foi um choque muito grande, as
pessoas sentiram muito a falta do comboio", recordou António Bento, que
foi durante 34 anos operador de material circulante.
O autarca disse que soube que a linha
ia fechar "precisamente nesse dia" e lembrou que, um ano antes,
"tinham sido substituídas 17.000 travessas de madeira (que suportam os
carris)". "Nunca imaginámos que a seguir iria fechar", lamentou.
Cármen Forte, 70 anos, foi mulher de
um ferroviário e praticamente todos os dias ia ter ao comboio para dar de comer
ao marido. Recorda, por isso, com saudade esse tempo e desabafa: "Era bem
bom que voltasse, porque faz falta a muita gente".
O comboio era, segundo António Bento,
o único meio de transporte que havia e era muito utilizado pelos residentes das
aldeias e pelos estudantes que se deslocavam para Vila Real.
Após o fecho da linha, o transporte
ferroviário foi substituído pelo autocarro, que segue por estradas estreitas,
sinuosas e esburacadas.
Os carris foram arrancados, chegaram a
ser anunciadas obras de beneficiação no valor de 23,5 milhões de euros e a
reabertura da linha em setembro de 2010. Entretanto passaram 10 anos.
"Eu por natureza sou uma pessoa
muito otimista e penso que sim, que a linha pode ser reativada (...) Sim,
justifica-se até por um fator de turismo", salientou o autarca.
O Partido Ecologista "Os
Verdes" (PEV) deu início em dezembro a uma campanha pela reativação da
Linha do Corgo e promove hoje uma caminhada pelo ramal de 25 quilómetros que
ligam Vila Real ao Peso da Régua.
"O canal está em ótimas condições
e cremos que é possível fazer esse investimento e devolver a via-férrea às
populações", afirmou à Lusa Fernando Sá, dirigente de "Os Verdes".
O PEV defende que faz todo o sentido
reativar a linha neste momento em que se prevê a eletrificação da Linha do
Douro até ao Pocinho, em que o turismo ferroviário é mais cada vez mais
procurado e o Corgo pode ser complementar ao Douro, e em que se fala cada vez
mais na descarbonização para combater as alterações climáticas.
Fernando Sá disse que, a este
propósito, o PEV encetou negociações com o Governo no âmbito do Programa
Nacional de Investimentos 2020/2030.
"Vila Real é a única cidade com
ensino universitário que não tem transporte ferroviário. É um objetivo e julgo
que é possível reabilitar a linha e voltarmos a ter ferrovia, mas uma ferrovia
que seja rápida, confortável, que sirva para fins turísticos e também para
carga e isso não será fácil sem um grande investimento", salientou o
presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos (PS).
E continuou: "estou convencido
que apesar dos nossos desejos, nos próximos quatro a cinco anos esse
investimento não se concretizará, mas estamos disponíveis para continuar a
lutar e para continuar a alertar o poder de Lisboa para a necessidade desta
linha".
Rui Santos especificou que defende a
reativação daquela linha ferroviária "em toda a extensão, entre a Régua e
Chaves". O troço da linha entre Vila Real e Chaves foi encerrado em 1990,
durante o Governo PSD de Cavaco Silva
Para já existe o projeto de uma ecovia
no ramal entre Vila Real e Régua. No entanto, segundo o autarca, "ficou
acertado" com a Infraestruturas de Portugal (IP) que o "canal tem
necessariamente de ser sempre preservado para o regresso do comboio".
Fonte: Diário de Notícias